segunda-feira, 28 de setembro de 2015


ORIGEM DO MOVIMENTO HIP HOP NO 

                       BRASIL



O movimento hip hop começou sua história no Brasil 
de maneira discreta e quase imperceptível para 
muitos, e era encarado muito mais como uma moda 
passageira do que com seriedade. Com o decorrer do
tempo, começam a surgir pela cidade de São Paulo, 
os primeiros grafites ligados efetivamente a uma temática hip hop, e principalmente começa a se ouvir pelos “cantos” da cidade um jeito diferente de se cantar. Surge no país a musica rap e o movimento hip hop se torna realidade no país, mesmo que de maneira totalmente “underground”, marginal.


Os primeiros anos do movimento são difíceis, pois seus adeptos são perseguidos pela polícia, ou são desacreditados e ridicularizados nos próprios “bailes blacks”. Esta situação começa a melhorar quando em 1983, Michael Jackson através de seus clipes, em especial das musicas “Thriller”, “Billie Jean” e “Beat It” e da abertura da novela das 20:00h da rede Globo de Televisão “Partido Alto” composta por dançarinos de break, acabam por revelar a “break dance” como uma forma de dança moderna, uma forma de arte “respeitável”.


A juventude das periferias, em especial a negra paulistana, passam a se identificar com o ritmo daquela música diferente, falada de forma muito rápida, e até por este motivo que os primeiros rappers são chamados de “tagarelas”, descontraída, sem conteúdo crítico ou de protesto a época, executada apenas para embalar as denominadas rodas de break. Mas, mesmo assim, o hip hop somente em 1988/1989, com o lançamento dos primeiros discos de rap no país “Kaskatas – A ousadia do rap made in Brazil”, em 1988, e a coletânea “HIP – HOP. Cultura de rua. O som das ruas” em 1989, que lançou os expoentes do rap nacional, a dupla Thaide & DJ Hum, com as músicas “Corpo Fechado” e “Homens da Lei” consideradas as pioneiras do chamado rap “consciente” e de “atitude” (Zeni, 2004) no país, que o movimento começa a conquistar o seu espaço no Brasil.


Este segmento social de jovens urbanos periféricos passa a constituir o movimento hip hop como o seu meio de expressar suas agruras, suas reivindicações, suas denúncias, geradas em seu universo social cotidiano onde a qualidade de vida, onde os aparelhos de serviços básicos do Estado não existem ou são extremamente precários. O hip hop passa a atuar nas áreas centrais como forma de demonstrar que também fazem parte da cidade, também a formam e a caracterizam, se negando a aceitarem a “não cidade”, o “não lugar” que historicamente ocupam na espacialidade urbana dos municípios, territórios estes que se originam de “um modelo de urbanização sem urbanidade que destinou para os pobres uma não-cidade, longínqua, desequipada como espaço e como lugar.” Estes jovens passam a se fazerem ouvir, a se fazerem notar quando passam a divulgar através do hip hop esta precariedade social a que estavam relegados e ao denunciarem os processos de discriminação racial e violência policial a que cotidianamente eram submetidos.


Esse fenômeno inicialmente restrito, se espalha pelo Brasil de forma rápida e consistente por Santo André, São Bernardo do Campo, Campinas, Brasília, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte que se destacam neste processo de expansão do movimento hip hop pelo país. O hip hop se torna um dos principais porta voz das periferias brasileiras, se tornando um novo exercício de pratica política, de formação cidadã, surgindo nas periferias, locais de reunião dos integrantes do movimento que passam cotidianamente a exercer funções de integração social, de novos laços de sociabilidade nas áreas periféricas das cidades.

É importante ressaltar que esta atuação política do movimento hip hop ocorre num período histórico caracterizado pelo refluxo dos movimentos sociais urbanos. Enquanto os demais tipos de movimentos sociais urbanos, tanto reivindicatórios quanto pluri classistas, se encontravam inseridos em um refluxo histórico, procurando novas formas de exercerem sua ação política, o movimento hip hop aumenta sua visibilidade e conseqüentemente sua ação política-reivindicatória nas áreas urbanas das médias e grandes cidades.

Em meados dos anos 1990, apesar do hip hop já haver se consolidado, em especial na cidade de São Paulo, enquanto movimento social e cultural juvenil com o lançamento do 4º álbum do grupo de rap paulistano Racionais MC’s, o CD “Sobrevivendo no Inferno”, que o hip hop consegue seu “status” de maioridade e passa a ser interpretado pelos setores formais da sociedade como um movimento social e cultural que embora de origem norte americana, foi com o decorrer dos anos adaptada, sendo transformada de acordo com as necessidades, das demandas das populações periféricas brasileiras, em especial das populações afros-descendentes destas comunidades.

Uma nova etapa começa a se consolidar para o movimento hip hop, o de agente político transformador da realidade urbana das periferias e das relações históricas de poder das cidades. Este fato passa a ocorrer, pois o próprio processo de segregação a que foram historicamente submetidos às camadas mais populares de nossas cidades, acaba por produzir novos espaços públicos de exercício de cidadania, de exercício político, fora dos padrões formais usualmente aceitos, neste caso novos territórios urbanos de caracterização negra e juvenil.

Com a obtenção de reconhecimento de público e crítica pelo sucesso dos Racionais MC’s, toda uma geração do hip hop nacional, com destaque para Gog e Câmbio Negro (Distrito Federal); R Z O e Consciência Humana (São Paulo capital); Sistema Negro e Visão de Rua (Campinas); Faces do Subúrbio (Recife) entre tantos, passa a evidenciar uma postura mais agressiva do movimento, em especial da musica rap que se torna cada vez mais “pesada”, cada vez mais soturna, com uma linguagem de gírias típica da população jovem das periferias, quase em forma de código. A gíria utilizada pelos integrantes do movimento tem a função de agir como elemento de identificação e de congregação social em meio aos demais grupos (sujeitos) sociais constituintes da(s) Pólis, cada qual com sua linguagem específica, possibilitando um processo de relações e de reconhecimento (identificação) social dos seus sujeitos constituintes.

Este período do movimento é caracterizado pela consolidação deste como uma nova forma de movimento negro juvenil, com larga inserção nas periferias brasileiras, onde os movimentos negros tradicionais, apesar de seu valor histórico e político, nunca conseguiram uma grande inserção. É através do hip hop que um vasto contingente populacional, jovens da periferia, em especial os afros-descendentes, passam a exercer a busca por seus direitos cidadãos. O discurso e a prática do movimento é desenvolvido de forma que acaba por transformá-lo, em especial o rap, em um (re)construtor de identidades ao realizar em espaços públicos urbanos, formais ou não, a discussão sistemática da participação da população negra no processo histórico da formação do Brasil enquanto país e contrapor-se assim ao padrão de exclusão racial e social a que se encontram inseridos e que se 
 reflete no processo de ocupação urbana deste grupo 
 étnico-racial social nas cidades brasileiras em geral.